Antônio Dabés e as histórias da primeira casa construída na orla da Praia do Morro

Hoje quem passa pela Praia do Morro e vê as centenas de prédios e milhares de apartamentos, com a orla urbanizada não faz ideia do que era o local na década de 1960. Mas o senhor Antônio Dabés sabe muito bem como era naquela época.

Na verdade Antônio Dabés, hoje com 89 anos, foi a primeira pessoa a construir uma casa na orla da praia, em uma época em que turismo em Guarapari se restringia ao Radium Hotel e às Praias do Centro.

“Não tinha nem trilha no meio do mato para se chegar na praia. Na época eu tinha um escritório de contabilidade em Belo Horizonte e um morador do meu prédio fez uma reunião com os outros condôminos para vender terrenos na Praia do Morro. Ele tinha acabado de receber a licença para fazer o loteamento e para encorajar outros compradores ele anunciou que eu já tinha comprado o primeiro terreno, mas eu nem sabia disso”, conta Dabés, rindo da situação.

Na foto, tirada na década de 1960, é possível ter uma ideia do que era a Praia do Morro daquela época. A casa foi a primeira a ser construída na orla. Foto: álbum de família.

Mas apesar da compra “forçada”, Antônio embarcou na ideia e veio reconhecer a área do seu novo imóvel. “Não tinha água e muito menos eletricidade, mas me encantei com a cidade e com a Praia do Morro e resolvi construir uma casinha lá no meu novo lote. O material de construção só chegava lá de carroça e os mantimentos eram comprados em um empório que tinha no Centro, mas muitas vezes tínhamos que ir a Vitória comprar as coisas porque faltava aqui”, relembra.

Antônio também é o homem que plantou a árvore da espécie Ficus na orla da praia. A famosa Árvore do Vovô Nuto e Lourdinha (uma homenagem ao sogro e à esposa) originalmente foi plantada no quintal da casa da família, mas como eles descobriram que árvore crescia muito, ele resolver replantar a árvore um pouco mais longe da casa.

Um dos filhos de Antônio, Mauro Dabés, acompanhou toda a aventura de se construir uma casa em uma praia deserta. “Antigamente as férias escolares eram de quatro meses no ano. Então passávamos boa parte do ano aqui em Guarapari. Antes da casa ficar pronta, ficávamos em um hotel no Centro de Guarapari, que era o único lugar da cidade que tinha alguma coisa. Muquiçaba tinha umas lojinhas perto da ponte e era só”, conta.

O senhor Antônio, com a árvore do Vovô Nuto no fundo: primeira casa na orla da Praia do Morro.

Um fato curioso que Mauro lembra é que na época havia uma fazenda de gado, A Fazenda do Carlito, que fica na Praia da Cerca, mas como não haviam pessoas vivendo por perto, as vacas leiteiras e os cavalos ficavam soltos.

“De manhã quando as vacas passavam na frente da casa, nós prendíamos uma e tirávamos o leite para tomar café da manhã”, conta Mauro rindo muito e continua. “O transporte que existia na época era o cavalo, então sempre no começo das férias meu irmão laçava o primeiro que passava por aqui e ficava com ele o verão todo. E deixávamos ele pastando no gramado da frente da casa para cuidar da grama”, relembra Mauro.

Mas apesar das características desertas da praia, teve pelo menos um aventureiro que tentou roubar a casa dos Dabés. “Estava todo mundo dormindo e eu escutei alguém tentando abrir a porta. Como era muito deserto na praia, tinha comprado uma arma para proteger minha família. Eu sentei em uma cadeira com a arma na mão de frente para a porta. Na hora que o cabra abriu a porta e me viu, saiu correndo feito doido. Dei uns tiros para cima, para assustar e depois disso, nunca mais fomos incomodados. Fora isso, podíamos deixar a casa aberta quando íamos para Belo Horizonte, que quando voltávamos estava tudo lá.”, conta Antônio.

À direita, a árvore do Vovô Nuto que originalmente foi plantada no quintal da casa da família Dabés. Foto: álbum de família.

Décadas se passaram desde a construção da primeira casa na Praia do Morro. Mas até poucos anos atrás, a casinha de seu Antônio inda resistia entre os incontáveis edifícios de apartamentos que foram construídos ao redor. Mas na década passada, um vizinho que morava nos terreno que ficava atrás da casa dos Dabés tentou transformar a residência deles em patrimônio histórico do município. Isso impediria que a casa fosse vendida e o vizinho não perderia a vista da praia, mesmo que dos fundos da casa dos Dabés.

“Já havíamos recebido algumas propostas para compra do terreno e ficamos com receio de não podermos vender depois, então decidimos aceitar. No negócio, o construtor deu a cobertura do prédio para meu pai e uma quantia em dinheiro. Não estamos mais na casinha construída há quase cinquenta anos, mas ainda estamos no mesmo lugar, exatamente no meio da Praia do Morro e em frente a Árvore do Vovô Nuto”, finaliza Mauro.