Especial Mulher: saúde e sexualidade
Por Carolina Brasil
Publicado em 8 de março de 2021 às 12:15
Atualizado em 9 de março de 2021 às 15:39
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A série Especial Mulher começa falando de saúde e sexualidade. Não há como desvincular os avanços da tecnologia e da medicina como grandes aliados à autonomia das mulheres com o próprio corpo.
Um dado histórico que talvez poucos saibam, até mais ligado ao direito do que à saúde especificamente, mas que revela o quanto a liberdade corporal/sexual era (e ainda é) um tabu, é que, somente em 2002, a virgindade feminina deixou de ser justificativa aceitável para que o homem pudesse pedir a anulação do casamento.
E com menos de 20 anos, a mudança no Código Civil é uma mostra da repressão à sexualidade e ao desejo feminino. Até o advento da pílula anticoncepcional (em 1960), o sexo por prazer era privilégio dos homens e a reprodução descontrolada uma “obrigação” da mulher. “Não há dúvidas que a pílula contraceptiva foi um divisor de águas, pois a mulher passou a controlar a própria vida reprodutiva, já que antes passava praticamente toda fase reprodutiva tendo filhos em sequência, obtendo assim o planejamento familiar e o controle da menstruação. A evolução dos anticoncepcionais trouxe também muitos avanços para a saúde feminina”, lembrou Dra. Míriam Zan de Sousa Conti, ginecologista-obstetra.
Para a profissional, com 24 anos de atuação, a introdução de novos métodos contraceptivos fez com que essa liberdade fosse além. “Recentemente, começou a se falar da trombose associada aos hormônios do anticoncepcional e surgiu um movimento de buscar alternativas; as próprias mulheres têm se questionado sobre o assunto e migrando para o uso de contraceptivos naturais combinados e/ou optado pelo uso do DIU não-hormonal; que fique bem claro que, tanto o uso do anticoncepcional tradicional quanto o de qualquer outro método, é necessário o atendimento médico individual para saber o que é melhor para cada caso”, ressaltou.
Dra. Míriam também destacou o maior acesso à saúde preventiva como uma conquista das mulheres ao longo dos anos. “Com o advento da tecnologia, temos conseguido diagnósticos precoces de doenças. Um exemplo é a mamografia, exame padrão ouro para detecção do câncer de mama ainda no estágio inicial da doença; temos ainda a ressonância em vária situações, como a investigação da endometriose; e o preventivo, que feito no tempo certo e da maneira correta aumentam as chances de cura do câncer de colo do útero, por exemplo”.
Considerando a data como importante, a ginecologista destaca que aprende diariamente com as pacientes e que todas as conquistas das mulheres trazem uma carga e o desafio de saber lidar. “As oportunidades que a mulher começou a ter quando passou a sair de casa, a estudar, a trabalhar, provocaram uma independência financeira, social, e até sexual, isso tudo está muito ligado. Mas é importante que a mulher aprenda a lidar com tudo isso, pois as conquistas foram nos sobrecarregando e precisamos conciliar tudo, mas o tempo vai ensinando as coisas para gente; depois de muitos anos e renúncias, eu deixei de atuar com partos para ter mais tempo para mim e para minha família, precisamos fazer escolhas e saber que ‘tudo bem’ priorizar ou não assumir responsabilidades culturalmente impostas”.
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