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Casa da Cultura sob ameaça?
Por Livia Rangel
Publicado em 25 de novembro de 2014 às 00:00
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Texto: Vinicius Eulálio
Símbolo histórico e cultural de Guarapari, a estrutura da Casa da Cultura pode estar ameaçada por conta da construção de edifício em seu entorno
Estudante de Letras, Iranilde Silvestre Correa costuma pegar livros emprestados na Casa da Cultura, onde hoje funciona a biblioteca professor Silva Mello. “Se não fosse esse espaço, estava perdida para fazer meus trabalhos”, conta entre risos. Antes de ser o local de empréstimos de obras literárias, o edifício, construído em 1749, já foi sede da Prefeitura, da Câmara e também a cadeia da cidade.
Quem passa pelo local agora vê que sua estrutura foi exposta às intempéries do tempo. A bibliotecária Nilva Aguilar, que de lá é funcionária há 21 anos e vem desde então todos os dias de Vitória para trabalhar, frequentemente ouve comentários sobre o local. “Os turistas vêm para visitar, acham o prédio muito bonito, mas reclamam da má conservação”, relata.
Quem passa pela localidade também pode perceber que logo atrás, colado na antiga sede da prefeitura, há um terreno sendo preparado para a construção de um prédio – inclusive com a placa da construtora já posicionada. De um dia para o outro, a Casa de mais de dois séculos se viu avizinhada por essa possibilidade. A dúvida que fica é se irá aguentar se manter firme estruturalmente e à tradição cultural e histórica de Guarapari.
Responsabilidade de quem?
De acordo com a Prefeitura, a construtora responsável pelas obras possui licenciamento junto ao poder executivo para a demolição do terreno, que já foi feita. Ainda de acordo com o município, por enquanto a empresa não tem o licenciamento para começar a construir.
O Presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Guarapari (Sindicig), Fernando Campos, lembra que, em casos como esse que envolvem sítios culturais, é necessário que se tenha a licença do Instituto de Patrimônio e Artístico Nacional (Iphan) – fiscaliza e protege os bens culturais –, além de autorização da Prefeitura, por meio do Plano Diretor Municipal.
Para o engenheiro civil e conselheiro do PDM de Guarapari, Loren Guimarães dos Santos, o prédio pode ser construído ao lado da Casa da Cultura sem que haja danos ao patrimônio. “Há condições, mas tem que tomar os cuidados devidos. Se o terreno for arenoso, por exemplo, é necessário colocar uma cortina para contê-lo”, lembra.
Sobre as responsabilidades da construtora, o presidente do Sindicig lembra que a empresa é responsável pelos seus vizinhos, independente de quem o seja. É indicado, portanto, que haja uma vistoria do local para o resguardo das duas partes. Essas e outras recomendações são passadas a todos os associados, de que faz parte a empresa em questão.
Riqueza cultural e histórica da cidade
Ao ser indagado sobre a importância das raízes culturais de Guarapari, a exemplo da Casa da Cultura, o conselheiro estadual de cultura e também conselheiro do PDM do município, José Amaral Filho, afirma que a cidade está perdendo o interesse pela sua própria origem. “Guarapari tem um potencial cultural gigante. A Casa da Cultura faz parte da transição histórica da cidade e estamos perdendo o interesse por nossas raízes”.
José Amaral participa de um grupo da cidade que se reúne há cerca de dois anos para discutir as questões culturais de Guarapari. A construção do empreendimento ao lado de uma das instalações mais antigas da cidade saúde também é posto em pauta nos encontros. “O próprio PDM do município discorre sobre as medidas que devem ser tomadas ao se construir ao lado de patrimônios”.
Em contato com o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Rural e Urbano, José Chalhub, ele afirma que o PDM tem áreas de proteção ambiental e de Patrimônio Cultural. “No poço dos Jesuítas, por exemplo, a área do entorno é de preservação ambiental, não podendo haver edificações no local. Com a revisão do PDM, essa discussão com relação à Casa da Cultura poderá ser colocada em pauta. Atualmente não existe limitação de edificações no seu entorno. A única restrição é quanto à visibilidade, que não deve ser prejudicada”.
Conservação da Casa
Na opinião da bibliotecária Nilva, o ponto é perfeito para abrigar uma biblioteca, mas infelizmente apresenta problemas de preservação. Ela relata que há goteiras, infiltração e o teto do segundo andar ameaça cair a qualquer momento. Apontando para as janelas, ela informa que até sacolas plásticas foram colocadas entre as frestas para a poeira da obra vizinha não invadir o espaço.
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