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Quilombolas: Eles representam a história do movimento negro
Por Livia Rangel
Publicado em 21 de novembro de 2014 às 00:00
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Aproximadamente 470 metros acima do nível do mar. A localização, embora hoje de difícil acesso, era estratégica entre os séculos 17 e 18, quando Guarapari foi cenário de uma república negra durante cerca de 50 anos.
Neste período foram registradas a existência de duas fazendas – Campos e Engenho Velho, com 600 escravos. Era lá de cima que eles vigiavam para saber se alguma ameaça se aproximava. “As características de quilombos são o que podemos ver no caso dessa comunidade localizada em Goiabas no Alto de Iguape. Local de difícil acesso, alto, onde se tem a visão geral para vigiar”, conta o historiador José Amaral Filho.
Visita ao Quilombo
Para a nossa equipe chegar até a comunidade foram duas tentativas, uma através de trilha, com quase duas horas de subida em mata fechada, e outra de carro por meio de uma estrada de chão que tem origem no centro de Buenos Aires. A primeira, devido ao calor e à falta de preparo físico, não conseguimos concluir, mas na semana seguinte, acompanhado de Adriano Albertino,conhecemos a família do Senhor João Santana, 89, bisneto de escravo. Outra forma de chegar até a comunidade é através de Iguape, no km 26 da BR 101.
O Sr. João criou 14 filhos que hoje cuidam dele, pois desde o ano passado, foi diagnosticado com Alzheimer. Apesar dos quadros de esquecimento, a religiosidade, o amor pelo congo e a vontade de dar continuidade à tradição continuam firme. Com poucas palavras ele agradece a Deus. “Ele meu deu condições para eu criar meus filhos. Eu amo muito meus pais (falecidos), aprendi muito com eles e hoje tenho o mesmo amor pelos meus filhos e netos”, diz emocionado.
Fomos recebidos com o ritmo do congo e muita alegria, além de um saboroso café e bolinhos de chuva feitos na hora. A sensação é de estar dentro de um livro de história. Dentro das casas, tudo é mantido como era antes. Elas são suspensas, a base é de pedra, o chão de madeira, as paredes de estuque e a tapagem de oitão afilado. A construção principal, casa onde parte da família do Sr. João mora hoje, foi erguida por ele mesmo.
Também presenciamos um momento emocionante, a entrega da placa de homenagem pela Câmara Municipal ao 1º aniversário do Movimento Negro de Guarapari. “Essa homenagem significa o reconhecimento do que eu e meus pais, avós e bisavós passamos”, relata Sr. João.
DIFICULDADES:
A vida de todos não foi nada fácil e ainda continua cheia de desafios, mas a filha mais velha de Sr. João, a Dona Benedita Santana, 68, afirma que diante de tudo que passaram, hoje vivem em um paraíso. “Papai trabalhava muito na roça e quando ele chegava ficava a família toda até duas horas da madrugada no quitungo – casa de farinha – torrando farinha. Era daí que vinha nossa fonte de renda”, conta.
Mesmo diante das dificuldades nas áreas da saúde, educação, transporte, infraestrutura, e os desafios de se manter, economicamente falando, parte da família continua firme com as atividades tradicionais como artesanato com fibras de banana, confecção artesanal de peneiras, produção de pães e doces, plantações de feijão, milho, banana, além da criação de galinhas, porcos, gados, apicultura, a prática de catequese, entre outros.
O medo do historiador é que as facilidades da cidade deixam morrer as tradições. “Ainda não foi feito um trabalho de identidade com essa população para que se resgate essa cultura. É um grupo que está vulnerável, tem parte da cultura perdida, então precisam mais da atenção do poder público. Muitos deles já trabalham na cidade e com o tempo a tendência é que se distanciem cada vez mais de suas culturas”, lamenta Amaral.
MELHORIAS:
Em junho de 2012, o grupo recebeu o Certificado de Auto Definição como Comunidade Remanescente Quilombola emitido pela Fundação Palmares. Após esse reconhecimento, passou a somar 30 comunidades no Espírito Santo.
Depois disso foi criada a Associação dos Quilombolas, coordenado por Regis Loureiro e presidido por João Borges. “Agora que temos uma associação podemos elaborar projetos junto ao Governo do Estado, ao Ministério da Cultura, Incaper e empresas. Após reuniões, já definimos prioridades para a comunidade”, ressaltam.
PROJETOS DA ASSOCIAÇÃO PARA A COMUNIDADE QUILOMBOLA |
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Proposta de melhorias: |
Restauração da casa de farinha |
Construção de Unidade de Saúde/ Visita semanal de agentes de saúde |
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Habilitar pista de vôo livre e rapel |
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Aquisição de carro para comunidade |
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Melhorar o acesso |
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Disponibilizar veículo escolar |
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Distribuição uniforme de água para as residências |
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Aquisição de instrumentos de congo |
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Investir na agricultura orgânica |
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Melhorar infraestrutura para iniciar programa de visitação |
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Promover estudo para que área pertencente ao quilombo não seja explorada |
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