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Uma brincadeira que virou profissão

Por Glenda Machado

Publicado em 17 de agosto de 2015 às 17:19

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“Sem sombra de dúvidas” impossível não reconhecer a voz. Seja narrando partidas de futebol ou no radiojornalismo, ele é líder de audiência. Já são três décadas de contribuição com a história do rádio no estado e em Guarapari. Uma paixão de criança que passou de brincadeira à profissão. Mas vamos deixar que o próprio conte os detalhes dessa trajetória para a gente. É com você, Sandro Venturini.

Folha da Cidade – Como surgiu essa paixão em narrar jogos?

Sandro Venturini – Eu narrava futebol de botão quando era criança na escola, em casa, com 10 anos. Eu jogava e narrava ao mesmo tempo. Meus amigos ficavam loucos. Eu era apaixonado. Ganhei o meu primeiro jogo de botão de uma veranista em 1974. Um ano depois ganhei o estrelão. Foi quando comecei e depois nunca mais parei.

FC – E quando deixou de ser brincadeira para virar profissão?

Foi em 1985. Com 18 anos, eu fiz um teste para narrar futebol capixaba. Zé Carioca, que era o narrador, gostou e me colocou para narrar na mesma semana. Foi tudo muito rápido, porque 15 dias depois, o pessoal da Gazeta me ouviu, gostou e eu já estava sendo contratado pela Rádio Gazeta Futebol Seleção 820.

FC – Você joga bem, Sandro?

Eu confesso que tenho uma frustração em minha vida, porque eu queria ser jogador. Mas o jeito foi virar narrador mesmo. Eu acho que jogo bem, mas narrar é minha paixão. E acredito que optei pelo caminho certo. Eu lembro que um ano depois que comecei a narrar, ganhei um título de narrador revelação do Estado pela Associação de Cronistas Esportivas Capixabas.

FC – Qual foi a partida mais marcante?

Guarapari contra Desportiva. Nesse jogo narrei um gol de um menino aqui de Guarapari, Marcelinho Soares. Ele fez um golaço e foi quando o pessoal da Gazeta me ouviu e gostou. Também gostei muito de narrar as últimas cinco decisões do campeonato capixaba. Mas o xodó foi ter narrado o título de Guarapari em 1987.

FC – Como é ter vivido os anos de ouro de Guarapari e ver que hoje a cidade não tem time?

Guarapari tinha time que disputava a primeira divisão, mas por más administrações não está disputando nada hoje. Mas chegou a ser um time de ponta no estado, ficava entre os  quatro melhores do Espírito Santo. Era respeitado. Se Guarapari tivesse a estrutura de 87 hoje, seria campeão estadual nesses últimos cinco anos disparado. Porque os demais times estão muito nivelados. E Guarapari tinha esse diferencial, que a gente sente falta hoje. Mas foi campeão em 87, vice em 89 e depois só despencou.

FC – Como é ver o estádio sendo demolido hoje junto com a história esportiva da cidade?

Na verdade eu sou a favor do progresso. Acho que Guarapari merece um super empreendimento. Só não concordo da forma como está sendo feito. É uma vergonha, porque ninguém sabe quem é o dono, quem vendeu, quem comprou, por quanto, onde está o dinheiro.

FC – Na sua opinião, como vai acabar essa história?

Duas palavras: assassinatos e/ou cadeias.

FC – Aproveitando o clima de repórter, como foi o ingresso no mundo do jornalismo?

Com uma semana na Gazeta, em 1985, fui escalado para fazer uma matéria porque o repórter havia faltado. A pauta era: “Detento arranca a cabeça de outro preso e joga em cima das marmitas na Casa de Detenção de Vila Velha”. Fui cobrir a rebelião e ainda tinha que conseguir falar com o assassino. Foi o maior medo. Imagina eu estava começando, com 18 anos, e pegar uma pauta dessa logo de cara.

FC – Quanto tempo de radiojornalismo?

Eu tive um programa na Rádio Ativa FM. Era uma audiência fantástica. Gostei muito dessa época. Hoje, estou há 15 anos com o programa Sandro Venturini na Rádio Sim AM Guarapari. Pensei que eu ia parar 15 anos atrás, mas aí veio essa oportunidade dos amigos Ronaldo Calenti e Rui Baroneu.

FC – Como você define as pautas, porque é um programa diário, de segunda a sexta, às 7h?

A maior pauta é o ouvinte, porque rádio é muito imediatista, você pode dar a notícia enquanto ela está acontecendo. Lembro que uma vez estava falando da onda de violência na cidade e trazendo a estatística de morte por bairro. Um ouvinte ligou e disse: “coloca mais um na conta que tem um corpo na vala”. Ele deu a informação antes mesmo da polícia. Esse é o barato do radiojornalismo.

FC – Já pensou em trocar o rádio por outro veículo de comunicação?

Eu já tive experiência com TV. Gostei muito. Tinha um programa de jornalismo na TV Guarapari e um de esportes na Nova TV. Mas rádio é a minha opção. Este ano, minha filha Renata estava chorando que ia perder a prova na UFES, entrei no carro e a levei para Vitória e na volta, chegando em Setiba, ouvi a vinheta do programa na rádio, pedi Ronaldo para me colocar no ar do carro e entrei ao vivo pelo telefone no viva voz. Apresentei o programa de improviso, com a interação dos ouvintes e dirigindo. Caia um temporal, tive que ir bem devagar. Foi emocionante. É uma coisa de louco.

FC – Esse foi o local mais improvável?

Não. Já narrei uma partida de futebol em cima de uma escada pendurada no poste em Rio Grande. Não tinha a tecnologia de hoje. Era campeonato rural e como não tinha sinal nem cabo, o jeito foi narrar pendurado mesmo e pelo telefone.

FC – E hoje, com a tecnologia, como manter a audiência na narração dos jogos pela rádio disputando com a imagem da TV?

Na rádio a gente cria a emoção. Ouvir a partida na rádio é mais romântico e mais gostoso que assistir pela TV. Porque na rádio tem adrenalina, tem emoção, você não pode perder o lance. Na TV, como a imagem já diz tudo, é uma narração mais parada. Na rádio é mais dinâmico.

FC – Qual você prefere: narrar futebol ou fazer radiojornalismo?

Narrar é minha paixão, é menos polêmico. Depois que descobri, quando narrei o meu primeiro jogo, que eu ia ganhar para fazer algo que sempre foi uma brincadeira para mim e ainda teria churrasco depois das transmissões, pensei: essa é a melhor profissão do mundo. E até hoje é assim. Só tenho a agradecer.   

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