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Para além da sala de aula, estudantes exercitam a solidariedade e o respeito

Por Livia Rangel

Publicado em 18 de agosto de 2015 às 17:53

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“Eu não acredito em caridade. Eu acredito em solidariedade. Caridade é tão vertical: vai de cima para baixo. Solidariedade é horizontal: respeita e outra pessoa e aprende com o outro. A maioria de nós tem muito que aprender com as outras pessoas” (Eduardo Galeano).

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Alunos interagiram com os internos do Recanto dos Idosos Santo Antônio.

Respeitar a si mesmo, ao outro e ver além das aparências. Essas lições agora fazem parte do currículo dos alunos do 9º ano A e B da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Darcy Ribeiro que participaram, entre os meses de junho e agosto, do projeto Click da Solidariedade. Neste período, eles somaram esforços, multiplicaram conhecimentos, analisaram contextos, compreenderam o ambiente ao redor e escreveram novas memórias ao terem contato direto com pessoas atendidas pela Apae Guarapari e pelo Recanto dos Idosos Santo Antônio.

Segundo os professores de Língua Portuguesa, José Luz, e de Tecnologia Educacional, Stéphani Lourencini, que coordenaram os trabalhos, essa foi a forma encontrada para incentivar os alunos a se atentarem para as dificuldade alheias e buscar formas de ajudar o próximo.

As ações foram realizadas em duas frentes, de modo paralelo. Enquanto a turma A se concentrou em adquirir um novo olhar sobre as pessoas com deficiência, a B ficou por conta da elaboração de um livro de memórias coletivo, auxiliados pelos integrantes da melhor idade.

Campanhas. As duas salas ainda promoveram campanhas de arrecadação de alimentos, brinquedos e produtos de higiene entregues às instituições visitadas. O resultado, contudo, ultrapassou a questão material.

“Foi uma experiência excepcional. São projetos como esse que a escola precisa. Abrir os portões e levar os alunos a vivenciarem o que acontece lá fora. O envolvimento dos estudantes foi total, dá para perceber como isso fez bem a eles. É um desafio trabalhar com adolescentes, pois na maioria das vezes eles encaram tudo como uma brincadeira. O Click da Solidariedade veio trazer esse choque de realidade e eles estão muito mais comprometidos e agradecidos com o que têm agora”, relatou a diretora, Penha Rossato.

Localizada no bairro São José, região afastada do Centro de Guarapari, a EMEF Darcy Ribeiro atende uma clientela variada: são cerca de 850 estudantes nos três turnos, com idades que variam da pré-adolescência à terceira idade. Isso porque além das turmas de Ensino Fundamental I e II, à noite também é oferecida a Educação de Jovens e Adultos (EJA), do 1º ao 9º ano.

 Um novo olhar sobre as limitações

“Se temos de esperar, que seja para colher a semente boa que lançamos hoje no solo da vida. Se for para semear, então que seja para produzir milhões de sorrisos, de solidariedade e amizade” (Cora Coralina).

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Percebendo a deficiência na prática. Alunos deram uma volta pelo bairro São José com o auxílio de bengalas e cadeiras de rodas simulando deficiência motora e visual.

No lugar de lápis e cadernos, vendas nos olhos, bengalas e cadeiras de rodas. Foi assim que começou o projeto Click da Solidariedade com os alunos do 9º A. Com a visão e locomoção limitadas, os alunos deram uma volta pelo quarteirão da escola e puderam enfrentar na pele as dificuldades vividas pelas pessoas com deficiência.

O professor José Luz afirma que a prática foi de extrema importância. “Os próprios adolescentes relataram que depois da experiência, eles passaram a respeitar mais as limitações alheias e ajudar quem precisa”, conta.  O passeio também serviu como uma preparação para o momento seguinte: uma manhã de interação com os alunos da Apae.

“Realizamos apresentações de músicas, dinâmicas e compartilhamos um lanche muito gostoso. Também tivemos a oportunidade de fazer a doação de presentes e alimentos arrecadados pelos nossos alunos. Foi uma manhã de muitos aprendizados”, completa José Luz.

A estudante Leilane Pereira Cardoso, 17 anos, concorda. “Eu gostei de tudo. Primeiro pelo passeio com os olhos vendados onde eu aprendi a me colocar no lugar do outro e pensar sobre as dificuldades que as pessoas deficientes passam no dia a dia. Depois na Apae, eu me emocionei muito, principalmente porque eu vi que lá os alunos estão sempre sorrindo, alegres, por mais dificuldades que eles tenham na vida”, disse.

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Leilane, ao fundo, com dois alunos da Apae Guarapari e a professora Stéphani: “Eles estão sempre com um sorriso no rosto”.

Contato com idosos para escrever livro de memórias

“Permita-se rir e conhecer outros corações. Aprenda a viver, aprenda a amar as pessoas com solidariedade, aprenda a fazer coisas boas, aprenda a ajudar os outros, aprenda a viver sua própria vida” (Mário Quintana).

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No Recanto dos Idosos, a música uniu internos e estudantes.

Com a missão de escrever um livro em conjunto contando suas próprias memórias, os alunos do 9º B foram a campo para aprender de perto com quem tem história e experiência de sobra para contar. Foi com este objetivo que eles visitaram o Recanto dos Idosos no começo de agosto em outra manhã especial. E não foi apenas isso que eles levaram de bagagem.

“Conhecendo de perto a realidade de diversos idosos, eles puderam perceber a importância de ser compreensivo e solidário com o próximo. Aproveitamos a oportunidade e entregamos alimentos, produtos de limpeza e de higiene pessoal que foram arrecadados por eles”, relata a professora Sthépani Lourencini.

A aluna Bruna Aparecida, 17 anos, revela que esta foi  sua primeira experiência do tipo e aprovou. “Foi muito legal! Levamos um violão e cantamos e dançamos com eles. Os idosos gostam muito de conversar e a gente vê que eles sentem muita falta de contato com outras pessoas porque quase não recebem visitas. Quero voltar lá outras vezes e agora vou me dedicar ainda mais ao meu texto. Quero fazer um bom trabalho por eles e acrescentar essas experiências no livro também”.

De acordo com os professores, a previsão é que o livro esteja pronto ainda no final deste mês. Para comemorar a finalização do Click da Solidariedade, além de leitura compartilhada das memórias, haverá exposição de fotografias tiradas ao longo do projeto e um momento de confraternização dos estudantes. A obra ficará depois à disposição na Biblioteca, para que mais alunos tenham acesso ao aprendizado que ultrapassou barreiras sociais e os muros da escola.

Reportagem: Gabriely Sant’Ana
Fotos: Divulgação EMEF Darcy Ribeiro

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