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Castelo de Areia: muito mais que brincadeira de criança

Por Livia Rangel

Publicado em 27 de novembro de 2014 às 00:00

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Espátula nas mãos, barraca de camping nas costas e muita história pra contar na bagagem. Viajando de praia em praia, carrega todo o seu material de trabalho e pessoal em uma pequena mochila. Assim tem sido a rotina do artista Nelson Amazônia. Ele tira o sustento da areia há duas décadas. E a praia torna-se muito mais que seu ganha pão, a orla vira seu lar por algumas semanas.

Na escultura, um castelo de areia. No olhar, sonhos. E no coração, a simplicidade de quem já aprendeu muito com a vida ao longo dos seus 53 anos. Não tem como não parar para admirar o trabalho de arte. Durante os poucos minutos de prosa, diversas pessoas pararam para tirar fotos e elogiar seu Nelson. E sem distinção de idade. Admiração que ficava ainda maior, diante das poucas palavras do seu Nelson. Olha a lição, quando questionado sobre a sua maior dificuldade:

 “Não tem dificuldade não. Tem alegria de viver. É o que eu gosto de fazer. O dinheiro que ganho dá para comer e pagar o transporte de uma praia para outra. A gente fica muito feliz quando uma criança chega perto e faz um elogio. Às vezes, o vento ou a chuva atrapalham um pouco. Mas não desanimo não. Espero e conserto. Deus dá força e tudo o que Ele faz é perfeito. Se venta ou chove é porque é necessário naquele momento”.   

É a primeira vez que o paulista desembarca nas orlas de Guarapari. No final da semana passada, ele esteve na Praia do Morro. E agora tem encantado moradores e turistas do Centro. Seu Nelson fez um castelo de areia na Praia das Castanheiras. Com quase dois metros de altura, ele capricha nos retoques finais e cerca o monumento para não correr risco de depredações.

“Normalmente, fico em torno de uma semana em cada praia. São de dois a três dias para fazer a escultura, tudo depende das condições do tempo. E depois de pronta, a obra dura uns quatro dias. Nesse tempo eu durmo aqui mesmo perto da escultura para vigiar. Mas, graças a Deus, nunca tive problema com pessoas. Elas respeitam, mas tenho medo dos animais de rua”, conta seu Nelson.   

DSCN7191 - Castelo de Areia: muito mais que brincadeira de criança

Ele começou o trabalho nessa terça-feira, terminou hoje e vai ficar na praia até domingo. “Eu moro aqui em frente. Fiquei da varanda de casa olhando ele trabalhando. O porteiro disse que ele ficou a noite toda e a madrugada também, fazendo a escultura. Muito linda. Uma obra de arte, uma arte que se desmancha. É uma imagem pra gente guardar na memória”, disse a aposentada, Margarida Abreu de Faria, 78 anos.

DSC08116 - Castelo de Areia: muito mais que brincadeira de criança

E tudo o que aprendeu foi olhando e acompanhando um artista francês. “Trabalhei por dois anos como ajudante dele e aos poucos fui aprendendo. Depois, comecei a viajar sozinho. Mas ele nunca me ensinou nada. Eu que aprendi só de olhar”, lembra. Os elogios são prova de que aprendeu com louvor. “Eu estava andando de bicicleta no calçadão e resolvi parar para ver de perto. Chamou minha atenção, achei muito bonito”, afirma o estudante André Queiroz, 8 anos.

Antes de Guarapari, Nelson esteve na Praia da Costa, em Vila Velha, e em Jacaraípe, na Serra. Já esteve outras vezes em algumas orlas do Estado: em Itapoã e Coqueiral de Itaparica, em Vila Velha, e Camburi, em Vitória. “Daqui vou voltar para Jacaraípe. Depois vou voltar para Praia da Costa. O povo pediu para eu voltar lá para fazer de novo a Santa Ceia e o Convento da Penha que fiz em 2006”.

Mas antes, uma pausa para o descanso. Entre uma cidade e outra, o artista tira uns dois dias de folga para renovar as energias. “Aí procuro uma pousada bem baratinha para dormir, descansar, tomar banho. Depois, sigo em frente”. Nesse ritmo, ele conta que já conhece quase todo o litoral brasileiro. Inclusive, já conquistou títulos em alguns campeonatos brasileiros. “Fiquei em primeiro lugar no Rio Grande do Sul em 2008. E em segundo, em Santa Catarina, em 2009”.

De vez em quando, também volta para sua casa no interior de São Paulo. “Tenho um barraquinho lá em São Paulo. Mas como sou viúvo há muito tempo, fico mais na estrada. Quando vou lá, aproveito para ver meus filhos. Dois moram em São Paulo. Um está no Mato  Grosso. Mas já são grandes. Tenho saudade mesmo de quando minha esposa viajava comigo”, recorda da mulher que morreu em acidente de carro há 16 anos.

Para disfarçar a saudade da esposa, logo ele muda de assunto e elogia o povo de Guarapari. “Aqui o povo ajuda bastante. As pessoas param, olham, tiram fotos, elogiam. Mas tem praia que a gente vai uma vez pra nunca mais voltar. Agora, aqui é muito bom. O Estado todo é bom de se trabalhar. Acho que por isso que tem esse nome tão lindo de Espírito Santo”, finaliza. 

DSCN7182 - Castelo de Areia: muito mais que brincadeira de criança

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