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Pastor Raphael Abdalla escreve para o folhaonline.es aos domingos passando mensagens de fé e esperança aos leitores.

Coluna Palavra de Fé: Um tratado sobre o amor

Exposição bíblica de Lucas 7:41-47

Por Raphael Abdalla

Publicado em 15 de outubro de 2023 às 11:00
Atualizado em 15 de outubro de 2023 às 11:00

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pela fe - Coluna Palavra de Fé: Um tratado sobre o amor
Foto: reprodução.

Os fariseus nutriam forte antagonismo com o Senhor Jesus. Eles criaram um abismo, construíram um muro no coração que os impediam de reconhecer o caminho, a verdade a vida. Eles atavam fardos pesados nos outros, que nem eles eram capazes de suportar (Mateus 23:4). O texto bíblico mostra que certo fariseu, chamado Simão, aparentemente rompe essa barreira e convida Jesus para uma refeição em sua casa. Se o relato fosse ali interrompido estaria ótimo, porém o texto prossegue.

Naquele tempo as refeições nas casas dos judeus eram feitas com portas abertas. Uma mulher pecadora ultrapassada a entrada e se prostra aos pés de Jesus. Ao receber a adoração daquela pessoa, o Senhor Jesus é censurado pelo anfitrião. O fariseu não conseguia admitir que Jesus permitisse ser tocado por uma mulher de reprovável reputação. Uma primeira e importante lição surge: não adiante convidar Jesus para sua casa, se você não der total liberdade a Ele. 

Ainda hoje muitos querem receber Jesus em casa, mas delimitando o agir divino. “Nesse cômodo o Senhor não pode entrar, essa gaveta é secreta”, dizem aqueles que assim se portam. Na contramão dessa lógica, é tempo de lembrar que não existe noventa e nove por cento de entrega ao Senhor. É necessária inteireza na entrega. Conta-se que certo homem amputado de suas duas pernas participava da cruzada de um grande evangelista do século passado. Em resposta ao apelo exclamou: “Será que Deus aceita um homem pela metade?” 

Ao que lhe disse o pregador: “Deus prefere muito mais um homem pela metade que se entrega por inteiro do que um homem inteiro que se entrega pela metade.” Quando chamamos Jesus para nosso lar, devemos recebê-lo sem reservas ou censuras. Ao perceber o que o fariseu estava pensando, o Senhor propôs uma breve parábola: certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro devia cinquenta. E, como eles não tinham com que pagar, o credor perdoou a dívida de ambos. Qual deles, portanto, o amará mais (Lucas 7:41-42)?

Necessária atenção total para a expressão “eles não tinha com que pagar”. Eis a nossa relação com a graça de Deus. Alguns tiveram o grande privilégio de nascer em berço evangélico e desfrutar dos melhores ensinos. Pela conduta de vida, são os que devem menos. Outros, não tiveram tal oportunidade, nasceram em lares disfuncionais, foram orientados nas piores práticas, são os que devem mais. Outrossim, há entre eles uma semelhança: ninguém consegue pagar a divina com o Criador.

Todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus (Romanos 3:23). Deus, por tanto nos amar, entregou seu único Filho para pagar a dívida, essa que por nossos méritos é impagável. O lugar mais seguro do mundo é o centro da vontade de Deus. Viver em retidão é nosso alvo. Mesmo assim, somos incapazes de autorredenção. Todo mérito é do Eterno, foi Ele quem nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o reino do seu Filho amado (Colossenses 1:13).

Jesus, portanto, ao interagir com o fariseu coloca aquela mulher em local de destaque (“voltando-se para a mulher” – v.44) e a usa como um exemplo de amor. Olhar seu modelo é responder à pergunta: que tipo de amor a sociedade espera de nós? Aliás, o que é o amor?

I. Amor é visão (v.44 – “vês essa mulher?”). Jesus não está arguindo acerca da capacidade oftalmológica do fariseu. Não se trata do discernimento de cores e contrastes, mas sim da necessidade de ver o ser humano com tal. Vivemos numa sociedade de visão embaçada. Inventamos telescópios capazes de enxergar outros astros da amplidão, mas não conseguimos enxergar o vizinho.

Em 2 Reis 6:17, Eliseu orou: “Senhor, abre os olhos dele para que veja”. Existe o que vemos com os olhos naturais, mas também com os da fé. A espiritualidade cristã desenvolve em nós a aptidão de enxergar as pessoas não apenas pelo que são, mas pelo que podem ser. Aprendemos com essa mulher que só podemos ver – de fato – a quem nós amamos. 

II. Amor é afeto (v.45 – “ela, porém, desde que entrei, não deixou de me beijar os pés”). O amor de muitos está esfriado (Mateus 24:12). Precisamos de ternura, é urgente estabelecer relacionamentos saudáveis. Não se pode afirmar amar sem a capacidade de demonstrar de forma prática. O amor não é uma teoria. Que Deus renove em nossos lares o dulçor. 

Em Romanos 12:11, o apóstolo Paulo nos alerta para que não sejamos preguiçosos quanto ao zelo. Pelo contrário, devemos ser fervorosos de Espírito, servindo ao Senhor. Cuidar é uma demonstração de afeto. Gary Chapman, por exemplo, marcou história ao elencar cinco linguagens do amor. Precisamos entender que amor é afeto e precisa ser demonstrado na linguagem que o outro possa sentir.

III. Amor é partilha (v.46 – “esta, com perfume, ungiu os meus pés). O fariseu não partilhou bálsamo sobre Jesus, a mulher – por sua vez – partilhou o que tinha. Jesus não despreza uma verdadeira adoradora. Somos o povo da multiplicação, da generosidade, da entrega. O Senhor está disposto a tornar abundante tudo o que estamos dispostos a partilhar.

Em Provérbios 11:25, Salomão nos ensina que a alma generosa prosperará. Quem regar, será também regado. A lei da semeadura é inquestionável no Reino de Deus. O amor não é egoísta. Aquela mulher nos ensina a partilhar o que temos e, note, a sociedade precisa urgentemente que venhamos a repartir as boas novas de salvação. 

IV. Amor é perdão (v.47 – “afirmo a você que os muitos pecados dela foram perdoados, porque ela muito amou”). Jesus arremata seu ensino estendendo perdão para aquela mulher. Para os seguidores de Jesus, perdoar não é uma opção, trata-se de uma obrigação. Perdão não é sentimento, é decisão. Não é esquecer, é lembrar sem dor. É absolvição, superação e graça.

Em Colossenses 3:13, a Bíblia Sagrada nos ordena: “suportem-se uns aos outros e perdoem-se mutuamente, caso alguém tenha motivo de queixa contra outra pessoa. Assim como o Senhor perdoou vocês, perdoem também uns aos outros.” A lógica do perdão é simples: ele vem do Alto, de forma vertical, e nós repartimos na horizontalidade das nossas relações.

Pois bem! Todas essas lições são possíveis em virtude do ato de adoração daquela mulher. Não sabemos seu nome, mas seu legado perdura entre as gerações. A Bíblia começa apresentando-a como uma pecadora e conclui sua história com o perdão recebido. 

Neste exato momento em que concluo este artigo, meu coração é tomado por emoção e minha mente pela profunda consciência de que somos absolutamente dependentes da graça de Deus. O amor deve ser nosso estilo de vida. Eis a marca indelével dos discípulos de Jesus: o amor. Aliás, nisso conhecerão todos que somos seguidores Dele (João 13:35). Bem-aventura aquela pessoa que conhece a maravilhosa graça de Deus. Não merecemos, mas precisamos. Que sejamos nós instrumentos de visão, afeto, partilha e perdão para a glória de Deus.

Raphael Abdalla é pastor titular da Primeira Igreja Batista em Guarapari e presidente da Convenção Batista do Espírito Santo. Possui formação em Direito, Teologia e MBA em Liderança. Idealizador do projeto Redes de Voluntários. Casado com Ana Paula Abdalla.

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As informações e/ou opiniões contidas neste artigo são de cunho pessoal e de responsabilidade do autor; além disso, não refletem, necessariamente, os posicionamentos do folhaonline.es

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