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Editorial 137: Cobertor curto
Por Livia Rangel
Publicado em 22 de dezembro de 2015 às 10:54
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A gente sabe que está calor e a última coisa que a gente pensa em um clima desses é em cobertor, mas não há outra comparação a ser feita quando pensamos em algumas das matérias desta edição.
Sabe a história do cobertor curto? Aquele que não tem tamanho suficiente e ao tentarmos aquecer parte do corpo com ele, outra parte fica sem cobertura? Pois bem: há pelo menos quatro dessas histórias nas próximas páginas (leia aqui a edição 137 completa).
Uma delas é o cobertor curto na Educação Infantil: Finalmente, a Prefeitura conseguiu cumprir parte do TAC firmado com o Ministério Público para garantir 100% das crianças de 4 e 5 anos na pré-escola. Porém, acabou deixando de atender ainda mais crianças de 0 a 3 anos. Isso porque, em vez da criação de novas vagas, foi feito o remanejamento de vagas e reorganização de turmas nos Centros de Educação Infantil. Apenas diminuíram o número de turmas de berçário e maternal para aumentar as de pré-escola.
Mas esse paliativo não deve funcionar por muito tempo. Isso porque até 2024, todas as crianças, a partir de seis meses de idade precisam ter 100% de garantia de vaga. Ou seja, oito anos pela frente para reverter essa situação e acabar com a triste cena dos sorteios de vagas que acontecem todo o final de ano nas creches municipais.
Outra é o cobertor curto na organização do nosso trânsito: até o final do verão, três das principais avenidas da Praia do Morro perderão cerca de 775 vagas de estacionamento para melhorar o fluxo de veículos no bairro, principalmente durante a alta temporada. Se por um lado, isso pode dar certo, de outro o trânsito de pedestres e ciclistas corre um grande risco.
Com mais espaço para circular, a tendência é que os motoristas fiquem mais confiantes para fazer ultrapassagens e aumentar a velocidade nas vias. E isso vai na contra-mão da mobilidade urbana segundo o especialista e engenheiro de trânsito e transporte, Fábio Muniz. Ele explica que hoje as grandes cidades estão fechando vias principais apenas para pedestres, e não o contrário. Essa medida da Prefeitura de Guarapari pode dificultar o acesso dos pedestres e ainda gerar acidentes em detrimento da alta velocidade.
Ainda na questão do trânsito, ganhamos uma linda e moderna rodoviária para finalmente recepcionar nossos turistas com conforto. Um investimento milionário da empresa concessionária, que cuidará do terminal pelo menos nos próximos 20 anos. E que também vai melhorar muito o problema dos congestionamentos em Muquiçaba, onde os ônibus interestaduais aguardavam passageiros em locais muitas vezes inapropriados. Porém a Prefeitura se esqueceu de um detalhe: como chegar ou sair de lá usando o transporte público.
São poucas as linhas que param em frente à Rodoviária. Nem mesmo a Praia do Morro tem um itinerário com esse destino. Questionada, a administração apenas respondeu que solicitou os itinerários às viações, sem informar prazos ou metas. E o alto verão está chegando…
E por fim o cobertor curto na assistência social: após uma operação envolvendo Prefeitura e as Polícias Civil e Militar, os proprietários de um asilo clandestino foram presos, acusados também de manter idosos em cárcere privado e em condições sub-humanas. Feito notável, se não fosse por um detalhe: em vez de transferir os idosos para outro local o que foi feito? Simplesmente realocaram os idosos para outra ala do estabelecimento, onde dependentes químicos ficavam alojados em melhores condições, enquanto entravam em contato com familiares ou outras instituições de acolhimento da terceira idade. Essa situação perdurou por nove dias.
Até quando nós vamos nos contentar com esses paliativos? Cobertor curto não tem jeito. Precisa ser trocado. Mas para isso precisa de investimento e planejamento. Chega de viver de improviso.
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