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EDITORIAL: Pessimistas de plantão
Por Livia Rangel
Publicado em 11 de julho de 2014 às 00:00
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Se existe uma coisa que o brasileiro gosta mais do que torcer é torcer contra, seja o alvo o time rival, um desafeto ou o candidato vencedor das eleições que não era o seu. Mas agora esse hábito está se superando. Desde o início das manifestações populares, em junho de 2013, que o brasileiro parece ter tomado gosto pelo ato de reivindicar.
Em um lindo espetáculo, o povo foi às ruas e exerceu o seu direito à democracia, exigindo a redução das tarifas de transporte, mais qualidade nos serviços públicos e o fim da corrupção. Apenas em Guarapari, cidade que não possuía a tradição de atrair multidões, mais de 10 mil pessoas foram às ruas naquele histórico 20 de junho.
Um ano depois, contudo, as reivindicações tomaram um único rumo: a Copa do Mundo. Como se de uma hora para a outra, todos os problemas do país estivessem vinculados ao evento. Do dia para a noite, deixamos de ser o país do futebol para nos transformarmos no país da insatisfação.
Nos meses que antecederam o Mundial, o país foi tomado por um pessimismo exacerbado. Na onda do compartilha e/ou curte, a nova moda é a crítica pela crítica. Cada deslize é comemorado com um post no facebook e um tweet indignado. Aquela velha mania de sempre querer dizer por último “eu avisei”.
Os críticos dizem que a Copa do Mundo, com seus estádios superfaturados, projetos de infraestrutura atrasados ou não entregues e o potencial constrangimento com os problemas de organização, fez mais mal do que bem ao desviar fundos de programas sociais e projetos de investimento mais importantes. E que se o Brasil for campeão, toda a corrupção relacionada ao torneio vai ser esquecida.
Para eles, uma eliminação precoce do Brasil no Mundial ajudaria o país a voltar a se concentrar nas necessidades mais prementes e, talvez, até provocaria mudanças políticas. Para eles, as eleições se deslocaram das urnas para os gramados. Porém, existe uma grande diferença nesses dois ambientes. Afinal, por mais que alguém faça figa, grite, pule ou faça promessas sem pé nem cabeça, não é possível interferir apenas com a força do pensamento nas ações dos 22 jogadores que estão do outro lado da telinha. Por outro lado, ao votar, o eleitor é único senhor da sua decisão. Portanto, se o desejo é mudar o cenário político, faça-o nas urnas. Não será torcendo contra que nossas angústias e problemas sociais e econômicos serão resolvidos.
Nós brasileiros devemos ter uma atitude mais positiva para gritar contra as coisas negativas que estão acontecendo em nosso país, há décadas. Escândalos políticos, corrupção, mensalões, cuecas milionárias, anões, refinaria de Pasadena, saúde pública caótica, educação precária, violência, doleiros, campanhas eleitoreiras milionárias com dinheiro público… são fatos negativos que devemos rejeitar, criticar, denunciar.
Se estão querendo transformar uma paixão brasileira, que é o futebol e a nossa seleção “canarinho”, que tantas alegrias nos deu em “ópio” para o povo não será torcendo contra os “meninos de verde e amarelo” que entrarão nas arenas para conquistar o hexa, que daremos nossa resposta.
Façamos a melhor Copa não porque alguém disse que faremos “a copa das copas”. Mas porque apesar de tudo e de todos amanhã poderá ser um novo dia para nosso País e para nossos filhos e netos, não por causa do resultado do mundial. Queiram ou não, a Copa está aí. E tomara que ela continue sendo um grande sucesso.
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