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Entrevista: Prefeito de Anchieta fala sobre trajetória política e desafios do município
Por Gislan Vitalino
Publicado em 27 de outubro de 2021 às 17:30
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Desde 2015, a cidade de Anchieta já enfrentava desafios graves. A paralisação das atividades da mineradora Samarco, diretamente responsável por cerca de 70% do Produto Interno Bruto no município, impactou negativamente a economia local.
No fim de 2019, enquanto a região vivia a expectativa da retomada das atividades da mineradora, o mundo encarou um desafio que interromperia não apenas as atividades de algumas empresas, mas da economia mundial: a pandemia da Covid-19.
Gerir um município em meio à tais desafios certamente não seria uma tarefa fácil. Em Anchieta, Fabrício Petri foi eleito em 2016 com 65,3% dos votos. Recebendo da população a tarefa de gerir um município sem sua principal fonte de renda e que ainda enfrentaria obstáculos inesperados, o prefeito conseguiu se reeleger novamente em 2020, para seguir o trabalho de recuperação do município.
Fabrício Petri (PSB)
Atualmente filiado ao PSB, Fabrício Petri, 43, é filho do ex-prefeito de Anchieta, Edival José Petri, que veio a falecer em 2015. Formado em direito e pós-graduado em Direito Público, o prefeito tem conduzido o município a resultados de destaque na região e no estado do Espírito Santo. Confira abaixo entrevista exclusiva de Fabrício Petri ao Folhaonline.es.
Folhaonline.es: Fabrício, ao longa da sua vida como foi a sua aproximação com a carreira política?
Petri: Desde novinho, estou envolvido na política e nem sabia. Morava no interior de Anchieta, em Alto Pongal e meu pai sempre se envolveu com questões sociais, com movimento eclesial de base, foi líder da igreja católica e sempre esteve envolvido com os anseios da comunidade. Ali já começava um envolvimento político.
Quando ele foi eleito para vice-prefeito, em 1989 a gente se mudou para a sede de Anchieta e, de lá para cá, passei a participar de reuniões, espaços de decisão… A política foi se aproximando. Ajudei a coordenar campanhas do meu pai por inúmeras vezes, chegando a assumir a secretaria de governo em 2010. Logo depois, passei em concurso do Ministério Público, e fui assumir a vaga.
Em 2015, após o falecimento do meu pai, houve um clamor da população e de lideranças políticas, para que a gente pudesse dar continuidade a esse legado e aos bons exemplos que meu pai deixou. Foi mais um pedido da população, do que uma oferta minha, de colocar o meu nome. Então reunimos o grupo, a família e comuniquei que aceitaria essa tarefa.
Folhaonline.es: A política é uma dedicação intensa e sua família vivenciou essa rotina através do seu pai. Como sua família recebeu essa decisão?
Petri: Como dizia o Papa Francisco, é através da política que se consegue fazer o bem em maior proporção. Nós podemos e devemos fazer o bem todos os dias, mas é através da política que se pode atingir o maior número de pessoas com boas decisões. Isso é muito gratificante, mas tem seus desafios.
Às vezes você abdica muito de momentos com familiares, amigos e até projetos pessoais. Àquele que encara a política com seriedade, está bem-intencionado e quer, de fato, transformar a vida das pessoas, se sente grato. Ainda mais quando se tem um bom trabalho para dar continuidade, mostrar que a lição foi bem passada a mim, ao grupo e à minha família.
Folhaonline.es: Então eles receberam de forma natural?
Petri: Foi natural, também já estavam envolvidos. Lógico que foi incentivada uma reflexão dos desafios que meu pai enfrentou e se eu, de fato, queria passar por isso. Mas eu queria continuar essa trajetória.
Folhaonline.es: Anchieta foi um município em que um desafio se sobrepôs ao outro. Como você enxergou esse momento?
Petri: Isso é algo importante. Não se cuida de pessoas, sem cuidar de números. Não dá para cuidar da educação, dar saúde de qualidade, se as contas não estiverem equilibradas. Com contas desorganizadas, não consigo pagar o fornecedor da alimentação escolar, do medicamento e isso prejudica o cidadão. É preciso manter uma saúde financeira, um equilíbrio para, aí sim, cuidar de pessoas.
A gente fez isso desde o princípio do mandato. Tomamos medidas de contenção e estabelecemos duas frentes diante desse cenário. Sem uma arrecadação significativa que Anchieta sempre teve, precisamos tomar essas medidas para salvar o município. Foi um remédio amargo para equilibrar as contas e manter serviços de qualidade para a população.
“Fácil, não foi. Administrar com recursos já é difícil, administrar sem recursos é muito mais. É preciso abandonar o populismo, o tapinha nas costas e ser gestor. Foi o que fizemos“.
Fabrício Petri (PSB)
Folhaonline.es: E como a população recebeu essa postura?
Petri: Eu tenho que agradecer de forma incansável a população de Anchieta, porque ela compreendeu e sentiu junto, sofreu junto, enfrentou tudo junto com a gente. A população deu às mãos a gestão e a gestão deu as mãos a população. Não faltou diálogo, não faltou transparência. Fizemos uma série de reuniões no primeiro semestre do mandato, conscientizando a população, as entidades, as comunidades, explicando que esse era um momento temporário. Que logo sairíamos bem e mais fortalecidos.
A população soube compreender e agora viramos essa página. Anchieta agora é o que estamos vendo: um município promissor, que está se destacando, está sendo referência no Estado. Anchieta é nota A no tesouro nacional desde nosso primeiro ano, em 2017. Anchieta conquistou o prêmio Prefeito Empreendedor no estado e o nacional. Nossa Sala do Empreendedor é a melhor do estado.
Folhaonline.es: A questão do empreendedorismo é marcante. Essa foi uma prioridade?
Petri: Nós focamos nessa questão, porque Anchieta era muito dependente de uma única atividade econômica, que era a área industrial e da mineração. Criou-se, naturalmente, um comodismo por parte do poder público e por parte da população.
“Foi necessário reinventar o município”.
Fabrício Petri (PSB)
Nós lançamos projetos que surtiram efeito. Hoje, 42% de toda compra do município é de fornecedores do próprio município. A gente capacitou, orientou os comerciantes, falou sobre as licitações e o comércio passou a vender para a Prefeitura. É aberto, mas hoje o fornecedor local oferece condições mais competitivas.
São medidas que fazem a economia girar dentro do município, trazendo efeitos positivos, como a geração de emprego e renda da população. Quando assumimos, tínhamos um índice de desemprego muito alto. Enquanto a média nacional era de 12%, em Anchieta tinha 26% da população economicamente ativa desempregada. Hoje, Anchieta tem outra roupagem, outra cara e é referência para o Espírito Santo e municípios de outros estados.
Folhaonline.es: E qual é a importância da parceria entre o município e o Governo do Estado nesses resultados positivos?
Petri: Extrema! Não é investimento por investimento. São investimentos que trazem retornos. Como a orla de Castelhanos, a reconstituição da Costa Azul, em Iriri. Obras que melhoram a prestação do serviço para atrair turistas e receber bem a população.
Tivemos investimentos na Educação, com recursos para construção de uma creche em Iriri. Teremos R$ 5,5 milhões para construir a nova Escola Terezinha Godoy, na sede do município; vamos receber mais R$ 6,5 milhões para pavimentação e drenagem das ruas do bairro Guanabara; muro de contenção da ponta dos Castelhanos.
São muitos investimentos e valores expressivos que o Governo do Estado tem destinado a Anchieta, até por entender o momento difícil que passamos. Por isso temos hoje a mão generosa do governador Renato Casagrande, não só em Anchieta.
Ouso falar que todos os municípios têm investimentos do governo do estado. A população tem muito a agradecer ao governador, que tem conduzido com muita habilidade a gestão da pandemia, enfrentou os problemas com as enchentes e mesmo em meio a esse vento contrário, tem feito um trabalho muito responsável e competente.
“Acredito que Deus coloca as pessoas certas, no momento certo e no lugar certo. Acho que esse foi o caso do governador Casagrande para enfrentar essa dificuldade“.
Fabrício Petri (PSB)
Folhaonline.es: E quais são os desafios que Anchieta ainda tem pela frente?
Petri: A gente vê agora um ambiente favorável para o surgimento de grandes negócios, novas empresas, empregos. A Samarco voltando, ferrovia EF-118 para iniciar. Há todo um processo que fizemos para atrair e incentivar o surgimento de novas empresas. Hoje, por exemplo é possível abrir uma empresa de baixo risco em 15 minutos, antes esse tempo era de 15 dias.
Anchieta tem essas oportunidades. Vai deslanchar, está preparado, com as contas em dia e credibilidade junto aos órgãos. O grande desafio é proporcionar e amparar esse processo com geração de emprego, renda, um turismo que vai projetar o município, atrair turistas e movimentar nossa economia.
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