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Especialista diz que Brasil vive “primeira grande epidemia de zika” do mundo

Por Livia Rangel

Publicado em 1 de fevereiro de 2016 às 11:50

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marcos boulos

Usando como exemplo o que aconteceu em outros países, Marcos Boulo acredita que após um pico de surto epidêmico, os casos de zika devem diminuir no Brasil. Imagem: Reprodução TV Brasil

Segundo o infectologista Marcos Boulo, a primeira grande epidemia de zika está acontecendo agora no Brasil. Para o especialista, que é professor e ex-diretor da Faculdade de Medicina da USP e coordena o setor de Controle de Doenças da Secretaria da Saúde de São Paulo, já havia uma previsão de que a qualquer momento, dado o grande número de ocorrência de dengue no país, poderia ocorrer um surto de chikungunya. Mas a grande quantidade de casos de zika foi vista como surpresa.

“Era uma doença que a gente via, como a dengue no passado era, com letras pequenas nos livros-texto, era desconhecida; uma doença, que de fato, teve poucas epidemias no mundo. As manifestações que estão aparecendo aqui no Brasil nem eram conhecidas”.

A doença era até considerada mais benigna do que a dengue, segundo ele. “Febre baixa, quadros clínicos menos graves, a pessoa raramente vai morrer por causa de uma doença dessas, a não ser que seja um imunodeprimido, com depressão imunológica importante, e tem manchas pelo corpo que desaparecem em dois ou três dias. Então, não tinha problema. A dengue era mais grave”.

Mas a situação mudou quando começaram a surgir os primeiros casos de microcefalia associados à zika. “Quando começa a ter esses paraefeitos você começa a pensar: ‘espera aí, o que está acontecendo?’. Nós não conhecemos. Até agora nós inferimos que a epidemia de microcefalia é por causa do zika. Por quê? Porque está acontecendo uma epidemia de zika”.

Apesar de não se saber muito sobre a doença, o médico acredita que após um pico do surto epidêmico, devam diminuir os casos de zika. “O que acontece com a zika, como a gente conhece muito pouco não dá para dizer. Mas aonde teve, na Polinésia Francesa, em algumas cidades pequenas na África, uma curiosidade é que a epidemia veio e nunca mais voltou. Se isso acontecer, até que não vai ser tão ruim assim. Vamos passar por um momento epidêmico importante, mas depois é provável que exista uma calmaria”.

Além disso, ele ainda destaca que provavelmente uma vacina contra a doença possa ser desenvolvida. “Aqui estão dizendo que conseguem vacina contra a zika em dois anos. Se o vírus não tiver uma grande mutação, é possível que consiga. De qualquer jeito, nós temos que enfrentar esse tempo não deixando que ele [vírus] esteja por aqui causando esses problemas.”

Microcefalia. Um dos possíveis efeitos da epidemia de zika que mais tem assustado a população é o nascimento de bebês com microcefalia, ou seja, com o crânio menor do que 32 centímetros, que é o considerado normal pela Organização Mundial de Saúde. A microcefalia pode surgir em razão de problemas durante a gestação, inclusive por doenças virais contraídas pela mãe.

De acordo com Boulos, a microcefalia em si, nesse contexto, não é uma novidade para a medicina, mas sim sua ocorrência associada ao zika vírus que foi registrada pela primeira vez no mundo aqui no Brasil. “A zika está parecendo a rubéola quando começou; você tinha lesões importantes como microcefalia, que é uma lesão cerebral com redução, ou seja, não houve formação completa, o vírus interferiu na formação, na organogênese, na formação dos órgãos. O vírus zika interfere aparentemente como a rubéola interfere, como o citamegalovírus interfere, que nós já conhecemos. Nós temos microcefalia há muito tempo. Mas essa [zika] é uma doença nova e está dando uma epidemia de microcefalia. Como nós não temos defesa contra ela nesse momento, então, isso apavora”.

Perguntado sobre mulheres que querem engravidar, ele disse que esta é uma decisão pessoal, mas que as pessoas têm que estar cientes do risco. “Algumas pessoas me ligam: ‘minha filha sonhou de engravidar e agora ela está querendo engravidar. O que o senhor fala?’ Eu falo: ‘eu não falo’. É de fato preocupante que as pessoas queiram engravidar, sabendo que, se tiver o zika, não estou dizendo que vai ter, mas pode, eventualmente ter uma criança com problemas e isso atrapalhar a vida, o desenvolvimento da família ou a vida normal. (…) E, claro que eu falo que você pode engravidar, mas você vai usar repelente, você vai usar roupas de manga comprida, vai usar meia, não vai deixar partes do corpo exposta quando está grávida e principalmente nos primeiros meses, que é a fase de formação orgânica.”

Ao falar em repelentes, ele referendou a indicação do Ministério da Saúde e da Vigilância Sanitária, apontando a substância Icaridina, como o princípio ativado mais indicado para o uso das mulheres grávidas e crianças. “O melhor que está liberado é a Icaridina, mas ela praticamente sumiu das farmácias. Porque ela é eficaz e dura algum tempo depois de você aplicar, não tem efeitos tóxicos à gestante ou à criança, pode ser usado por todos. Existe uma vontade de produção. A própria farmácia do Exército falou em produzir, mas eles não têm uma possibilidade concreta de produzir muito. Então, nós temos que desenvolver tecnologias para [a produção de] repelentes aqui no Brasil”, finaliza.

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