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Moradores reclamam da qualidade da água em Village do Sol
Por Glenda Machado
Publicado em 22 de março de 2016 às 23:04
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Sem acesso à rede de abastecimento de água e coleta de tratamento de esgoto, moradores do Village do Sol têm duas opções: ter poço artesiano ou pagar a uma empresa privada que atua na região. O problema, segundo eles, é que além da água ter cheiro e gosto de cal e cloro ainda é cara. Enquanto a Cesan – a concessionária do Estado – cobra uma taxa mínima de R$ 22, lá os moradores estão pagando R$ 72,60. Sem falar do risco à saúde.
Odemar Pimentel está sofrendo com a irritação nos olhos, que chegou a desenvolver alergia à cal. A esposa Luzinete Magione disse que também sente coceira nos olhos após o banho e irritação na pele. Eles moram há um ano no bairro e desde então começaram a ter problemas intestinais. “A água tem aspecto de água de coco, tem gosto de cal e cloro. As plantas morrem se a gente regar com essa água”, conta Luzinete.
A alternativa que o casal encontrou foi reservar água da chuva e mesmo assim a conta continua alta. “Eu economizo muito, uso água da chuva, reaproveito água de máquina de lavar, e mesmo assim pagamos em média R$ 150. Meu filho, que mora em Cariacica, quando visita a gente, sempre fala que essa água tem gosto. Ela deixa marca amarelada escuro na panela. Agora estou bebendo água da chuva também, coloco no filtro de barro e bebo”.
Janete Jesus Santos já chegou a pagar R$ 350 na conta de água quando morava com a mãe. Agora que mora sozinha com o filho está preferindo comprar galão de água mineral para beber e cozinhar. “Já passei mal e como temos criança em casa fico com receio. Gasto cerca de cinco galões de 20 litros por semana, sendo que cada um custa R$ 10. Mas não posso brincar com saúde, ainda mais que tenho problema nos rins”.
A tia dela, Nilza de Jesus, também reclama do preço. “Já paguei R$ 500. Fui reclamar falaram que eu devo ter deixado a torneira aberta. Sou eu, meu esposo, meu filho e minha neta, a gente não gasta tudo isso”. E destaca que a qualidade da água é duvidosa. “Água boa não tem cheiro, essa fede. É muito esquisito. Mas não tem jeito, é o que tem e sem água a gente não sobrevive”.
A Presidente da Associação dos Amigos da Praia do Sol, Neia Lima, explica que a empresa até tem estação de tratamento mas que não faz de forma adequada e que muitos moradores da região optaram por fazer poço para não pagarem um custo muito alto. “O bairro está crescendo. São mais de sete mil moradores. Esse abuso não pode continuar, temos direito à infraestrutura decente, queremos a Cesan”.
O Folha da Cidade entrou em contato com a empresa como se fosse um morador interessado no serviço de abastecimento de água. A atendente informou que para instalar o cavalete e o hidrômetro é um gasto de R$ 200. Já a taxa mínima de água é R$ 72,60 até nove mil litros, o excedente custa R$ 8,06 por litro. Mas que os valores serão reajustados a partir de 20 de abril, passando para R$ 230 a instalação, R$ 50 a taxa mínima e R$ 8,25 o excedente por litro.
Depois, a equipe de reportagem procurou a assessoria da empresa para esclarecer a questão da qualidade da água e do preço considerado abusivo pelos moradores. A Águalimpa Tratamento e Distribuição de Água explicou que está em contato outra entidade da região: a Associação Comunitária de Moradores dos Bairros Village do Sol (Unisol). O objetivo é rever os valores. Também destacou que tem laudo de químico responsável que atesta que a água é própria para consumo.
“Já tivemos uma reunião no dia 14 de março e amanhã teremos outra reunião com os moradores. Se mais pessoas aderissem o serviço, mais barato ficaria. A Unisol ficou de nos passar um levantamento das casas com a renda familiar para analisarmos uma forma de atender aos pedidos. O nosso escritório usa a nossa água e nunca houve nenhum problema de saúde”, disse a assessoria de comunicação da empresa.
O que diz a Cesan?
A Cesan informou por meio de nota que é responsável pela prestação de serviços de água e esgoto em todo o município de Guarapari. Mas desde que haja viabilidade técnica e econômica. “O Condomínio Village do Sol é uma área privada. Neste caso, as construtoras devem implantar os sistemas de saneamento e transferi-los para a operação da Cesan”.
Ainda destaca que “quando procurada pela empresa responsável pelo condomínio na época de implantação do loteamento, a Cesan informou que não havia viabilidade técnica para o abastecimento. A construtora optou por assumir o abastecimento de água no local, não havendo impedimento legal para isso”.
O que diz a Prefeitura?
Segundo a Prefeitura, “o loteamento Village do Sol faz parte da Área de Proteção Ambiental (APA) de Setiba, uma Unidade de Conservação Estadual, gerida pelo IEMA. De acordo com a Lei Federal 9985/2000, que institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, a instalação de redes de abastecimento de água, esgoto, energia e infraestrutura urbana, depende de prévia aprovação do órgão responsável por sua administração, o IEMA”.
Ainda ressaltou, por meio de nota, que “o loteador não implantou a estrutura necessária, devendo este ser cobrado pelos proprietários dos imóveis. Sensível ao problema enfrentado pelos moradores, a prefeitura já iniciou discussão junto ao Ministério Público e ao IEMA a fim de regularizar a situação do loteamento”. Em abril, já tem uma reunião agendada entre o município, Ministério Público e Cesan.
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