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O ex é um problema
Por Livia Rangel
Publicado em 24 de janeiro de 2011 às 00:00
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Ex-marido, mesmo quem não tenha um, já ouviu falar. É difícil alguém não ter um ex por perto. O novo-rico (ex-classe média), um pedante esnobe. O ex-fumante se torna um chato. Sou ex-fumante há três anos e luto para não ser mais um chato. O mesmo se dá com o ex-alcoólatra, que esquecendo os seus memoráveis porres passa a ser um pregador, se encontra algum amigo bebendo, dispara sua cantilena, que se não convence pelo argumento, mas pela inconveniência. Muitos ex-drogados se transformam em radicais caçadores de drogados.
Quando alguém deixa um clube e passa a torcer por outro, o que é raro, o seu ex-time transforma-se no pior adversário. Isso ocorre também na política: o ex-petista transforma-se num cáustico antipetista. Carlos Lacerda, ex-militante do Partido Comunista, transformou-se num ferrenho anticomunista e um dos principais articuladores do golpe de 64. Durante a ditadura militar tivemos os que deixaram de combater a ditadura e esconjuraram na luta, alguns passaram para o lado inimigo, chegando a ir à TV para renegar a luta e exortar seus ex-companheiros a mudarem de campo, a traírem. Temos o exemplo do famigerado Cabo Anselmo, que visitei na prisão, de ex-líder dos marinheiros a agente da CIA.
É preciso tomar cuidado com os que, cultivando tragédias alheias e aproveitando-se da sede punitiva da sociedade, querem tocar fogo no doente, querem jogar fora a água suja da banheira junto com a criança. O Deus do olho por olho, da ira, ficou no Velho Testamento. Para evitar que o menino Deus sobrevivesse e se transformasse no rei do amor, da generosidade, da solidariedade, Herodes mandou matar todos os recém-nascidos.
Políticos incapazes de proporcionar educação, saúde e segurança querem reduzir a idade mínima penal na mesma lógica de que matando os pobres se elimina a pobreza. Os filhos da riqueza sempre encontrarão meios de não serem penalizados, como os que colocaram fogo no índio em Brasília, como os que agrediram a empregada doméstica no Rio de Janeiro, como se fosse merecedora de agressão por ser confundida com uma prostituta. OS EUA, que chegam a ter a maioridade penal em alguns dos seus estados, a partir de 7 anos e prisão perpétua e pena de morte, é um dos países que mais consome drogas, onde mais acontecem crimes violentos e hediondos entre infanto-juvenis.
Pregações exacerbadas geralmente são cortinas de fumaça e seus arautos as usam para encobrir suas próprias faces carbonizadas. Os jovens recrutados para o crime não deixarão de ser se a idade penal cair, simplesmente os ainda mais novos serão os aliciados. Essa proposta simplória, levada as suas últimas consequências, chegará à punição do feto, mas não do feto das elites – econômica ou política – mas do feto da classe trabalhadora. Reduzir a maioridade penal é a maneira legal de se cometer o genocídio dos filhos e netos da classe trabalhadora, pois são esses que acabam sendo as vítimas dessa eugenia fascista.
Nestas eleições faltou coragem aos que defendem os direitos humanos, o Estatuto da Criança e do Adolescente, de fazer o contraditório com aqueles que fazem profissão de fé na intolerância, na dureza punitiva e na institucionalização da Lei de Talião.
Francisco Celso C. F. da Silva
Consultor e Dirigente Estadual do PT.
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