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O último romântico
Por Glenda Machado
Publicado em 18 de março de 2015 às 22:37
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Um homem apaixonado pela escrita, talvez um dos últimos românticos. Aos 90 anos, viu seu sonho ser realizado ao poder tocar aquele pequeno livreto, de capa azul, que transborda sentimentos da primeira página a ultima palavra. Também pudera, o título leva o nome da amada. Aliás, o nome da crônica da qual ele mais gosta, escrita há seis décadas quando conheceu o amor da sua vida: À Minha Verônica.
Everaldo de Carvalho Nascimento é um amante das palavras. E em junho do ano passado, o neto quis fazer uma surpresa ao lançar uma série de crônicas escritas pelo avô. “Sempre gostei de escrever, desde pequeno. Minha linha sempre foi crônica, acho prazeroso brincar com as palavras, com o sentido delas e com a história. Quanto à inspiração, tudo pode se tornar um motivo: uma lembrança, um ambiente, um fato inusitado”, conta o escritor.
Ele ainda lembra-se do tempo em que escrevia no Jornal Guarapari. Everaldo mora há 40 anos na Cidade Saúde. Tem dois filhos, cinco netos e espera ansioso pela chegada do primeiro bisneto – do qual fala com sorriso nos lábios e carinho no olhar. “Ele vai se chamar Felipe. Um nome autenticamente brasileiro”. E não é apenas a mente que ele exercita diariamente, também não abre mão da caminhada matinal na Praia das Castanheiras, no Centro.
“Eu caminho todos os dias. Gosto de ir para o calçadão e ver o dia nascer. Caminho junto com o sol”. E com tanta disposição, já pensa em lançar o segundo livro. Crônicas é o que não faltam, afinal é uma vida inteira escrevendo. Mas ele quer reunir as melhores, as que ele mais gosta, para nos encantar mais uma vez. “Não tenho previsão, nem pressa. Tenho apenas vontade e tudo há seu tempo”.
Para manter a memória boa, ele revela o segredo: “leio muito, tudo o que eu puder. Não tenho facebook, mas me comunico muito por email. Acho essa geração espetacular. Pena que não nasci nesta época. É maravilhosa a rapidez com que a informação se propaga e super interessante como as crianças já nascem conectadas”. Diante dessa revelação, pergunto: ‘mas o senhor não sentiria falta da tradicional carta?’
E recebo uma resposta digna de um cronista: “quem não sente saudade, não tem plenitude na vida. Mas saudade é um sentimento inerente, que não nos impede de acompanhar a modernidade, os avanços da vida. A carta terá sempre o seu lugar, na memória, na lembrança, na saudade. Mas a vida é o agora, o agora é o novo e o novo é aprender. O importante é não ficar para trás”.
Uma pequena amostra pra deixar gostinho de quero mais…
Foi Deus quem fez você…
(8 de novembro de 1980)
Foi mesmo Deus quem fez essa menina?
– Diz a toada, o canto popular!
Mas, se foi Ele, estava inspirado…
Ou o Diabo, para nos tentar?…
Vê o jeitinho de falsa pureza…
E que sorriso, cheio de malícia!
Será que Deus, ao término da obra,
Sabia estar criando um caso de polícia?…
Defeitos? Não encontro.
Ela é gostosa do principio ao fim!
Lembrei agora, tem grande defeito:
Não fica sempre juntinho de mim…
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