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Os tesouros escondidos no alto da montanha
Por Livia Rangel
Publicado em 6 de abril de 2015 às 13:24
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Duas histórias de sucesso, com a cara do campo,diretamente de Buenos Aires
A 12 km do Centro de Guarapari e 360 metros de altitude em relação ao nível do mar, duas histórias marcadas pelo desejo do empreendedorismo e pela vontade de aproveitar as oportunidades da vida. À medida que vamos subindo, o clima vai ficando mais ameno, os ares da montanha vãopreenchendo os pulmões e a cidade vira um pequeno ponto visto no alto do mirante de Buenos Aires.
Isso mesmo, a zona rural do nosso município é cheia de segredos, que quando descobertos fazem sucesso ao paladar, como é o caso da cachaça artesanal e os licores frutados do alambique Vila Anunciatta. Também há quitutes que já caíram na graça dos moradores “daqui da cidade”, mas que muitos desconhecem a origem. São os bolos, pães e biscoitos do Grupo de Mulheres de Buenos Aires. Com certeza você já se deliciou com uma dessas receitas caseiras, que são vendidas todos os sábados na feira municipal do Centro.
São ideias simples, com a cara do campo, feitas com paixão e capricho – os ingredientes secretos desse sucesso. Além de gerarem renda, também são o orgulho desses investidores da zona rural. O sorriso no rosto durante toda a nossa visita é a prova de que fazem o que gostam e a felicidade se faz notória. Conheça essas duas trajetórias em mais uma reportagem especial de Agroturismo do Jornal Folha da Cidade.
Segredos de um alquimista da cachaça
Do Sul de Minas é que veio a fórmula da cachaça artesanal da Villa Anunciatta. Com origem lá nos anos de 1920, foi passando de geração a geração sem perder a qualidade oriunda da técnica de fabricação própria e sem deixar de assimilar os novos recursos de mecanização. Os mínimos detalhes são os que fazem toda a diferença no sabor. Palavras de um especialista, Lauro Di Franco Seda.
Após se aposentar pela empresa Vale do Rio Doce, ele resolveu resgatar o costume dos antepassados e realizar um sonho antigo de família. Além do conhecimento nato, ainda fez questão de se especializar com pós-graduação em Cachaça na Universidade de Lavras em Minas Gerais. A sua história de amor com Buenos Aires já dura 12 anos.
No local, o visitante recebe uma verdadeira aula da bebida genuinamente brasileira, desde a produção até a hora de provar essa relíquia do campo. “A cana vem de Itapemirim. Vou à plantação pessoalmente para conferir o nível de sacarose (açúcar). Neste caso, a unidade de medida é chamada de brix. Uma laranja, por exemplo, tem 13 brix. A cana de açúcar gira em torno de 15 a 25 brix. Para fazer uma boa cachaça o ideal é que o nível seja acima de 22”, revela.
Depois da colheita, não pode ficar mais de dois dias estocada para não correr o risco de entrar em processo de fermentação sozinha. “Isso aumenta a acidez da cachaça. O coração da cachaça é o fermento. E quanto mais doce, melhor para o paladar”. Então chega a hora de acrescentar água para encontrar a harmonia correta entre os sabores.
“Fazemos isso em nosso próprio alambique, onde é feita a fermentação. Esse é o segredo do sabor e da qualidade da cachaça. É aqui onde se faz a diferença. Cada um desenvolve o próprio fermento da bebida alcoólica e descobre o seu tempo. No meu caso,são 24 horas para fermentar o caldo para a destilação”, conta Lauro.
É nessa hora que o açúcar se transforma em etanol, ou no bom português, em álcool. Depois de pronta, a cachaça ainda precisa descansar em três lugares: no aço inox, no barril de carvalho – este, europeu, mais precisamente, francês – e no barril de bálsamo – madeira brasileira.
“A madeira tem poros por onde ocorre a oxidação, esse é um dos principais elementos do paladar. São, em média 2,5 anos, de descanso na madeira. Pra mim, esse é o período ideal: não perde o sabor da cana e não fica com gosto de madeira. É o ponto certo. Mas preciso controlar a qualidade, medindo os níveis de açúcar todos os dias”, ressalta.
Lauro conta com a ajuda da fiel escudeira Lúcia Helena Arpini. Atualmente com a perna direita quebrada, ele brinca: “ela está com perna quebrada, mas me quebrou os dois braços”. E mesmo com a orientação médica para repouso, ela dá aquela passadinha na área para ver se está tudo em ordem e até arrisca a mexer em uma coisa e outra se equilibrando em uma perna só.
E pra quem não gosta de cachaça, pode experimentar o licor e digo, por experiência própria: “muito gostoso, leve, doce e deixa um sabor de quero mais”. Tem de jabuticaba, maracujá, coco, banana, jenipapo, pequi e cítrica. O local fica aberto para visitação de segunda a segunda, das 8h às 18h. É só chegar e se sentir em casa.
Receitas caseiras de sucesso
Quase 400 ovos, 100 quilos de trigo, 80 litros de leite, 60 quilos de açúcar cristal, 40 quilos de açúcar refinado, 15 quilos de fubá, 15 quilos de manteiga e 2 quilos de pó royal. Essa é a quantidade de ingredientes que elas gastam por final de semana. Mas o resultado de todo trabalho não tem nem como descrever, vai desde o aroma que invade o salão onde preparam os quitutes até a maciez da massa e o sabor que conquistam na primeira mordida.
Depois de prontos, os números não perdem sua grandeza: são 250 bolos, 100 pães e 250 pacotes de biscoitos e muitas mentiras, mas daquela que todo mundo gosta. O queridinho do público, porém, é o bolo de queijo, uma adaptação do pudim caçarola. Mas na humilde opinião de nossa reportagem, difícil barrar o bolo de aipim. É literalmente de dar água na boca. E sabor não falta, também tem bolo de coco, limão, abacaxi, broa, erva doce com goiabada e muito mais.
As responsáveis por tudo isso são as mãos de Jordânia Ribeiro Trajano, Eliana LangaBrambati, Maria das Graças BrambatiArpini e Rosiana da Silva Naser. Juntas, elas formam o Grupo de Mulheres de Buenos Aires. Iniciada há sete anos, a associação começou com 14 mulheres. Hoje, o sonho de muitas continua vivo com o trabalho de poucas.
“A ideia começou com um curso que foi oferecido na região pelo Senac. Foi quando pensamos em nos unir e montar algo para ajudar na renda de casa e ter o nosso próprio dinheiro. Então pensamos em pegar as nossas receitas e comercializar. É tudo produto caseiro, sem conservante nem produto químico. Vendemos sábado na feira do Centro. E final de semana aqui em frente ao campo de Buenos Aires”, conta Eliana.
Assim como as outras, as quatro mulheres também já pensaram muitas vezes em desistir. Afinal, são em média 35 horas em pé por final de semana, preparando, assando, desenformando, embalando e vendendo os quitutes.
“Às vezes a gente pensa sim em desistir, mas então lembra que é uma alternativa para completar a renda de casa. Agora não preciso pedir dinheiro ao marido quando quero comprar algo para mim. Eu mesmo tenho minha fonte de renda”, diz Rosiana. Ela completa que antes, “o campo não tinha valor, agora que está sendo valorizado. Ver os clientes satisfeitos e fazer o que a gente gosta, porque por mais cansativo que seja, é gostoso cozinhar, nos faz querer continuar”.
Reportagem: Lívia Rangel e Gabriely Sant’Ana
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