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Pastor, esposa e filho são presos por maus tratos a idosos em asilo clandestino
Por Glenda Machado
Publicado em 7 de dezembro de 2015 às 22:49
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O asilo funcionava na Associação Resgatando Vidas no bairro Lameirão
Um pastor, a esposa e o filho foram presos na tarde de hoje (07) após denúncias de maus tratos e até cárcere privado na associação da família chamada Resgatando Vidas no bairro Lameirão. Pelo menos 15 idosos, entre deficientes físicos e mentais, seriam mantidos presos dentro dos cômodos que contam com apenas um banheiro em cada e sem água cujo registro seria controlado pelos proprietários.
Wilson Pivanti Ferreira, a esposa Rosa Maria Ferreira e o filho Wilsinho, que são os responsáveis pela administração do local, foram levados ao Departamento de Polícia Judiciária (DPJ). Os acusados serão encaminhados amanhã de manhã ao Centro de Detenção Provisória (CDP). Embora tenham confessado que o local pertence à família, negaram que cometiam maus tratos.
“Eles foram autuados por cárcere privado, exposição ao perigo da saúde e integridade do idoso. Como a pena neste caso é superior a 4 anos, a fiança só pode ser fixada por um Juiz. O ambiente já caracteriza um asilo clandestino e as condições comprovam a violação dos direitos humanos”, disse o delegado titular da Delegacia de Infrações Penais e Outros (Dipo), Franco Malini.
O cheiro nos quartos estava insuportável, a roupa de cama com aspecto de suja, alguns colchões furados. Não faltam sinais de que o local não seria higienizado corretamente. Sem possibilidade de dar descarga, o cenário do banheiro era o pior possível. No imóvel de baixo, tinha apenas um armário além das camas. No de cima, tinha umas caixas empilhadas no cômodo que seria a sala onde tem uma pequena televisão e nos demais as camas em quartos bem pequenos.
Alguns dos internos contaram que além de não serem alimentados regularmente também teriam sofrido maus tratos por parte do filho do pastor. “Eles batem na gente quando a gente reclama de alguma coisa ou resmunga. A roupa é lavada toda quarta, mas tem três semanas de atraso. Limpam aqui todo dia, passam pano no chão”, conta o aposentado de 62 anos que está há 5 anos e 3 meses sob os cuidados do Resgatando Vidas.
De acordo com ele, a filha que o colocou ali e o visita a cada seis meses. “Ela pagou R$ 600 quando me deixou aqui. Hoje não sei se paga alguma coisa. Mas todo mês eles me levam no banco, eu tiro a minha aposentadoria e fica tudo com eles aqui”. Outros contaram que já teriam ficado dias sem comer. “Eles dão comida quando querem, já fiquei seis dias sem ter nada para comer, apenas água. Quero ir para casa”, disse outro interno.
Além do asilo clandestino, a associação ainda tem mais duas alas para dependentes químicos, sendo uma feminina com aproximadamente nove internas e outra masculina com 10. Os idosos foram remanejados temporariamente para a ala masculina por conta do feriado para que a prefeitura possa entrar em contato com os familiares e então encaminhá-los para a casa de parentes ou para o Recanto dos Idosos.
Entidade é embargada
A ação foi uma parceria do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) da Prefeitura, Conselho Municipal do Idoso, Vigilância Sanitária, Polícia Civil e Polícia Militar. Desde 2013, que o município tem recebido denúncias de maus tratos no local e tenta investigar a associação. Mas o problema é que a prefeitura só tinha ciência da ala masculina e da ala feminina dos dependentes químicos.
“A gente sempre vinha aqui fazer fiscalização quando recebia denúncia, mas como só tínhamos ciência da ala masculina e feminina, ele mostrava para a gente e parecia estar tudo normal. Até enviamos relatórios para o Ministério Público. Mas o órgão disse que não tinha provas concretas para abrir uma investigação”, conta a representante do Creas – que preferiu não ser identificada.
Há dois meses, a denúncia chegou ao Conselho dos Idosos. O órgão entrou em contato com o Creas. E mais uma vez partiram para a fiscalização do local. “Tentamos entrar na ala dos idosos, mas o proprietário não deixou, pois disse que se tratava de uma propriedade particular. Então recorremos à polícia”.
O delegado Dr. Franco autorizou a entrada no local que estava trancado com corrente e cadeados no portão principal. Os internos também estariam trancados dentro dos cômodos sem acesso às áreas comuns do imóvel. As alas para dependentes químicos estavam em processo de regularização, mas a dos idosos estaria funcionando de forma ilegal.
“Eles já tinham sido notificados para fazer devidas adequações na ala feminina e masculina tanto na estrutura física como na equipe, que eles não têm os profissionais necessários. Mas não se adequaram até agora. A ala dos idosos é ilegal, não tinham licença para funcionamento. Por isso foi embargada e o caso será investigado pela polícia”, explica o fiscal da Vigilância Sanitária – que também preferiu não ser identificado.
Quanto aos internos, deve haver um acolhimento institucional de acordo com a presidente do Conselho do Idoso, Solange Jampaulo. “Vimos pessoas vivendo em situação de miséria, em condições subumanas. São idosos, cadeirantes, pessoas com problemas mentais condicionadas a não sair, trancafiados, sem acesso à rua, não sendo bem tratados. Vamos tentar contato com os familiares e o que não tiver condições vamos procurar as instituições respectivas”.
Um dos internos, ex-dependente químico, que hoje ajuda na associação e na ausência dos proprietários torna-se o responsável contou que não há agressões no local e que foi ali onde ele encontrou a salvação. Ele não quis ser identificado, apenas disse que “todos são muito bem tratados, o pastor salvou a minha vida”. Mas não soube precisar quantos internos tem na associação nem a forma de pagamento.
O Ministério Público de Guarapari não quis comentar o assunto porque o promotor responsável está viajando já que hoje é ponto facultativo por conta do feriado de amanhã e só volta na quarta-feira (09). Mas disse estar ciente da situação e que vai tomar as providências cabíveis.
Confira a estrutura do local
Reportagem por Glenda Machado e Lívia Rangel
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