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Pioneira no ES, guarapariense recebe transplante de medula e se cura da anemia falciforme

Por Aline Couto

Publicado em 16 de dezembro de 2022 às 09:14

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cura anemia falciforme 4 - Pioneira no ES, guarapariense recebe transplante de medula e se cura da anemia falciforme
Fotos: arquivo pessoal.

Dina da Silva Gama, 34 anos, natural de Guarapari, não lembra da vida sem viver a batalha contra a anemia falciforme, doença que teve o diagnóstico comprovado quando ainda tinha seis anos. “Desde os dois meses, vez ou outra, tinha pneumonia. Minha mãe foi buscar entender o que estava acontecendo e em um hospital confirmaram o diagnóstico. Logo tomei minha primeira bolsa de sangue, pois já estava com hemorragia. Depois pesquisei e descobri o que era e que haveria crises fortes de dores”, explicou.

Mas a guarapariense conseguiu vencer essa luta há alguns meses e está curada, após fazer um transplante de medula óssea em São Paulo. Única no Espírito Santo a fazer o procedimento, que não é realizado no estado, Dina teve como doador o irmão, Cássio Gama, e com 12 dias seu corpo aceitou a nova medula.

Doença

A anemia falciforme é uma doença genética e hereditária, que se caracteriza por uma alteração nos glóbulos vermelhos, dificultando a passagem do sangue pelos vasos de pequeno calibre e, consequentemente, a oxigenação dos tecidos. O portador da doença pode ter dor forte provocada pelo bloqueio do fluxo sanguíneo e pela falta de oxigenação nos tecidos; dores articulares; fadiga intensa; palidez e icterícia; atraso no crescimento; feridas nas pernas; tendência a infecções; cálculos biliares; problemas neurológicos, cardiovasculares, pulmonares e renais; priapismo.

Há cura para a anemia, através do transplante alogênico de medula óssea. O grande problema é que a maior parte dos pacientes não é candidata ao procedimento pelos critérios de elegibilidade ou por não ter doador compatível.

Evolução

A guarapariense iniciou um tratamento para a doença aos 13 anos, quando passou a receber sangue de três em três meses. “Aos 15 anos operei a vesícula. A partir dos 16, comecei a ter internações mais frequentes”.

Quando completou 17 anos, Dina começou a se tratar com o medicamento hidroxiureia, utilizado para o tratamento de algumas doenças hematológicas. “E assim comecei ter uma “qualidade de vida” melhor. Mas em 2013, fiz exames por conta da barriga inchada. Tive muita falta de ar e acabei sendo entubada”.

Uma nova luta para Dina estava a caminho.

cura anemia falciforme 1 - Pioneira no ES, guarapariense recebe transplante de medula e se cura da anemia falciforme

Milagre

“Fizeram duas tomografias em mim e acharam um tumor no fígado, além de estar com infecção generalizada. Fui para cirurgia e tiveram que fazer uma laparotomia. Recebi muita doação de sangue, cerca de 20 bolsas”.

Foi durante a cirurgia que Dina relata ter passado por uma experiência com Deus. “Não estou falando de religião, mas sim do poder da fé. Eu tive uma parada cardíaca e o meu espírito saiu do corpo. Me vi na igreja que frequentava e dentro tinha um caixão no meio. Quando olhei, era meu corpo que estava lá. Vi minha mãe em choque e uma das minhas irmãs, desmaiada. Então chamei Deus e clamei. Eu o não via, só escutava a voz, e assim o Senhor pegou uma Bíblia colocou em minhas mãos e disse: vai e volta para seu corpo, e fala o que eu fiz na sua vida. E nesse momento vi os médicos com o desfibrilador tentando me reanimar. Também vi o médico que estava me costurando falando para fazer de qualquer jeito porque já havia morrido. Aí a máquina começou a apitar, e eles ficaram pasmos porque Deus fez um milagre em mim, me ressuscitou!”.

Ainda em 2013, mais uma vez Dina foi parar no hospital de emergência. “Quando cheguei fizeram uma tomografia e foi constatado que a apêndice estava perto do estado crítico, assim como meu ovário direito. Já levaram logo para cirurgia, que durou quase 7h. Daí para frente só foi ladeira abaixo, uma crise atrás da outra e cada vez piores”, lamentou.

Experimento

Em 2018, a guarapariense foi chamada para fazer o experimento *crizanlizumabe. “A minha hematologista Dra. Síbia Soraya, que foi um anjo na minha vida desde que passei ser consultada por ela, sempre buscou o que era melhor para mim, me ajudou quando os remédios não faziam mais efeito, e foi ela que descobriu esse tratamento do Estados Unidos e conseguiu me colocar nessa lista de pacientes mais críticos para o experimento”, enfatizou.

Dina frisou que nos primeiros meses estava indo muito bem, e chegou a conseguir ficar até seis meses sem crises, o que não era possível antes desse tratamento. “O experimento me deu um pouco de qualidade de vida. Conseguir até fazer rapel no Morro do Moreno, em Vila Velha. Passei a fazer academia e tinha uma alimentação saudável”.

Mas a doença voltou a se manifestar. “Infelizmente comecei a sentir muitas dores no fêmur. No raio X foi constatado que tinha necrose na cabeça do fêmur, nas duas pernas”.

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Transplante

Em 2021, Dina recebeu um e-mail do hospital de Barretos dizendo que a consulta dela para a tentativa de um transplante de medula havia sido aceita. “O transplante veio quase da mesma forma do experimento. Dr Síbia via que os remédios já não faziam mais efeitos em mim e falou sobre a nova tentativa”.

Em janeiro deste ano, Dina foi para São Paulo para realizar exames para o transplante, que teve como doador o irmão, sendo 100% compatível. “Como esse tipo de tratamento para a anemia falciforme não tem no Espírito Santo, consegui para realizar em São Paulo”

Já de volta ao Espírito Santo, Dina estava tendo muitas crises, e no mês de abril foi parar na UTI. “Em maio consegui voltar para são Paulo para fazer o último exame para o transplante. Através do exame ginecológico foi descoberta uma lesão maligna no colo do útero. Voltei para casa e fiz a cirurgia”.

Em agosto, já no hospital de Barretos, ela teve uma forte crise e ficou sem andar. Começou assim um tratamento com fisioterapia. E em outubro, finalmente Dina foi levada para ala cirúrgica para pegar o cateter. “Logo comecei a quimioterapia para tirar minhas células falciformes para deixar o organismo pronto para receber as células boas do meu irmão Cássio. O transplante de medula óssea não é uma cirurgia, na verdade é uma infusão como a doação de sangue”.

E 12 dias depois do transplante, a medula pegou. “Glória a Deus!”.

Sonhos

Hoje, Dina é só comemoração e gratidão. “Agora tenho sonhos, que antes com a falciforme não me atrevia porque sabia que não daria certo. Hoje posso pensar em uma viagem, por exemplo. No início ficava esperando dias iguais aos da anemia, sempre em alarme para ver se teria uma crise, mas graças a Deus não tive mais. Estou curada!”.

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Mensagem

“O que eu posso dizer para os portadores de anemia falciforme é: não pare, não desista. Eu sei o quanto dói, mas a cura está chegando para todos. Viva um dia de cada vez, acreditando que o milagre vai acontecer. Seja movido pela fé, nunca pare crer!”.

*um anticorpo monoclonal humanizado seletivo de IgG2 kappa que se liga à P-selectina com alta afinidade e bloqueia as interações com seus ligantes. O crizanlizumabe inibe as interações multicelulares adesivas mediadas pela P-selectina, que são um fator essencial na patogênese das CVOs.

A crise vaso-oclusiva (CVO) é uma complicação aguda, recorrente e imprevisível da doença falciforme que induz isquemia tecidual e dor severa. As CVOs são uma das principais causas de morbidade e lesões aos órgãos e constituem a causa mais frequente de atendimentos de emergência e hospitalizações. As CVOs associam-se significativamente à mortalidade precoce e estão entre as causas mais comuns de óbito em pacientes com DF. As CVOs costumam ser controladas sintomaticamente com analgésicos e outras terapias de suporte.

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