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Professor gasta 48 minutos por dia com bagunça na sala de aula
Por Livia Rangel
Publicado em 3 de março de 2015 às 12:56
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Uma pesquisa da OCDE feita com professores de 33 países ao longo de 2013 coloca o Brasil no topo de um novo ranking: o de quantidade de “alunos-problema”. Seis em cada dez professores brasileiros ouvidos no estudo disseram que pelo menos 10% dos alunos são agressivos, chegam atrasados e cometem até delitos como roubo em plena sala de aula. É o maior índice de “alunos-problema” entre os países pesquisados.
Com tantas questões de comportamento , um professor no Brasil gasta, em média, 20% do tempo de aula para colocar ordem na sala, 13% do tempo resolvendo problemas burocráticos e 67% dando conteúdo. É o país que onde o professor mais perde tempo de aula. A média dos países da OCDE é de 13% do tempo para acabar com a bagunça.
A Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Teaching and Learning Internacional Survey, Talis, na sigla em inglês) coletou dados sobre o ambiente de aprendizagem e as condições de trabalho dos professores nas escolas de todo o mundo. O objetivo é fornecer informações que possam ser comparadas com outros países para que se defina políticas para o desenvolvimento da educação.
Os dados foram levantados em 2013 com alunos do ensino fundamental e ensino médio (alunos de 11 a 16 anos), mas um relatório sobre a questão de comportamento dos alunos foi divulgado este ano. No Brasil, 14.291 professores e 1.057 diretores de 1.070 escolas completaram o questionário.
Leia também: Polêmica no Polivalente: professor explica o que aconteceu
ALGUNS DADOS DA PESQUISA:
Tempo para por a classe em ordem
No Brasil o professor perde 20% do tempo para acalmar os alunos, dar broncas e colocar a classe em ordem. A média da OCDE é de 13%.
Aluno que chega atrasado
Este não chega a ser um grande problema em comparação a outros. O índice no Brasil é de 51,4%, menor que a média dos países, de 51,8%. Países mais desenvolvidos têm alunos que atrasam mais, como Finlândia (86,5%), Suécia (78,4% Holanda (75,7%), Estados Unidos (73,3%) e França (61,6%).
Falta às aulas
Também o Brasil está na média, com 38,4%. Suécia (67,2%), Finlândia (64%) e Canadá (61,8) têm números maiores. O menor índice é da República Checa (5,7%).
Vandalismo e roubo
O Brasil está em segundo lugar neste item, com 11,8% dos relatos dos professores, atrás do México, líder com 13,2% e à frente da Malásia, com 10,8%.
Intimidação verbal entre alunos
O Brasil lidera a pesquisa com 34,4% dos relatos de professores, seguido pela Suécia (30,7%) e Bélgica (30,7%).
Ferimentos em briga de alunos
O maior índice é do México (10,8%), seguido por Chipre (7,2%) e Finlândia (7%). O Brasil aparece em quarto com 6,7%.
Intimidação verbal de professores
O Brasil é primeiro lugar com 12,5%. Em seguida vem a Estônia (11%).
Uso e posse de drogas e/ou álcool
Nos relatos, o Brasil tem o mais alto índice (6,9%), seguido pelo Canadá (6%).
Outros estudos
O tempo gasto com comportamento dos alunos no Brasil é velho conhecido da literatura de educação, das escolas públicas e privadas e das políticas públicas.
Em um estudo publicado 2009 sobre indisciplina e autoridade, a psicanalista Catarina Angélica Santos também ouviu professores brasileiros e chegou à conclusão que o problema da educação brasileira não é conteúdo, mas indisciplina: “Nosso dilema na escola não é o conteúdo em si porque este a gente domina e dá conta. Agora dar conta desses limites, dessa diversidade, dessa indisciplina é o que é complicado”, relata um professor nesse estudo.
Outra pesquisa, de 2011, feita por psicólogas em escolas de Minas Gerais, observou que a relação entre professores e alunos começa positiva nos primeiros anos escolares e vai se tornando cada vez mais negativa conforme a idade do aluno.
Vazio dialógico
Esse processo todo obviamente não tem apenas uma explicação. Há, pelo menos, uma dezena delas. O que se vê nas escolas hoje em dia são alunos desestimulados com conteúdos distantes da sua realidade, professores sem autonomia e sem autoridade (e sem boletim escolar) e falta de perspectiva futura do jovem.
Em artigo recente, a educadora Carminha Brant, superintendente educacional da Abramundo, que desenvolve material didático interativo para ensino de ciências, chamou esse buraco que se forma entre alunos e professores de “vazio comunicativo e dialógico”. Ou seja: o aluno continua indo às aulas, mas se distancia do conteúdo, da escola e do professor. Não vê sentido naquilo tudo. E, se não houver uma intervenção, esse mesmo aluno acaba largando a escola e ainda pode levar um monte de aluno bom junto (vale lembrar: hoje, um em cada dois jovens não termina o ensino médio no Brasil.) O que estamos fazendo para lidar com essa questão?
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